segunda-feira, 5 de março de 2012

Destino: Punta del Este


Trancoso, Jurerê, Ipanema... Em um país de praias tão belas como o Brasil, por que cerca de 50 mil brasileiros têm escolhido Punta del Este, no Uruguai, como seu destino de verão? Pode-se dizer que, exceto pela água do mar, Punta consegue, com suas várias partes, reunir o melhor de cada uma dessas praias em um só lugar. Gosta do clima cosmopolita de Ipanema? Então, siga para a Península. Prefere o estilo hippie-chique que é a cara de Trancoso? José Ignacio. A badalação de Jurerê é a sua onda? Reserve um lugar nos paradores de La Barra. Punta del Este é um dos destinos de praia finalistas do Prêmio VT. Bienvenido às quatro puntas de Punta!

PUNTA CLÁSSICA

Praia, pôr do sol e fiesta

O pôr do sol na Casapueblo. As dezenas de iates e lanchas flutuando sobre as águas do Porto. Os churros de dulce de leche do Manolo. A imponência do Conrad na parada 3 da Playa Mansa. As casas que recebem nomes fofos em vez de números. Para quem está chegando agora, é bom logo saber: Punta é uma cidade feita de rituais e costumes próprios. Onde mais se vai à praia depois das 5 da tarde e janta-se às 11 da noite?

E é essa Punta, digamos, mais clássica que costuma ser a porta de entrada dos mais de 300 mil turistas que desembarcam por lá no verão. Para eles, a cidade está basicamente dividida em quatro pontos principais: Punta Ballena, no extremo oeste, onde fica a famosa Casapueblo; a Playa Mansa, na costa oeste; Playa Brava, a leste; e, bem ao sul, a Península, onde tudo acontece. Até há pouco tempo, o lugar era exclusivo dos uruguaios, argentinos e gaúchos. Mas o cenário vem mudando. “Paulistas e cariocas estão vindo para comprar e alugar imóveis, o que não era muito fequente por aqui”, disse à VT Jimmy Fowler, representante da Terramar, maior imobiliária de luxo da província de Maldonado (departamento ao qual o balneário pertence). Só no primeiro trimestre de 2011, o número de turistas brasileiros cresceu cerca de 30% em relação ao mesmo período de 2010. “Punta tem infra, sofisticação e segurança, coisas que o brasileiro valoriza, ainda que as praias de vocês sejam mais bonitas”, diz.

O centro nervoso de Punta fica na Península. “No verão passado, vi o ator escocês Gerald Butler (o Rei Leônidas de 300) almoçando no Lo de Tere, um restaurante do porto”, contou a relações-públicas gaúcha Pati Leivas. “Não é preciso ir a lugares megaexclusivos ou escondidos para encontrar glamour em Punta.” Sem perder um certo ar aristocrático, a Península consegue englobar, numa mistura quase democrática, a high society com a galera que não faz muita questão de usar o último grito da moda praia. No miolinho da Avenida Gorlero, principal via da região, por exemplo, é possível encontrar os hambúrgueres do Burger King, hotéis modestos, lojinhas de cacarecos. Porém, a menos de um quarteirão de distância, na Calle 20 El Remanso, como em um passe de mágica, entram as vitrines de grifes, como Fendi e Valentino, e os tais restaurantes em que é possível esbarrar em atores de Hollywood. No porto, os iates dos jet-setters servem de cenário para as fotos de quem ainda não tem o seu barco para atracar ali. E não há quem não dispute um lugar para poder observar, na orla da Playa Mansa, o pôr do sol, esse fenômeno tão corriqueiro que adquire contornos de espetáculo por ali.

Saindo de lá e seguindo ao norte pela Rambla Claudio William, chega-se ao Conrad, o hotel e cassino mais famoso do balneário. Goste ou não do estilo “hotelão” de 17 andares (é o mais alto da cidade), ele cumpre a função de ponto turístico e referência. O cassino com 550 caça-níqueis e 72 mesas de jogos agita Punta mesmo no inverno. Some-se a isso o incansável trabalho do departamento de eventos do hotel, que leva famosos para lá o ano todo – Ricky Martin e Shakira foram dois dos pop stars que fizeram shows por lá recentemente. Subindo pela rambla, na parada 24, está o Serena, o hotel mais cool da cidade. Durante a happy-hour, o restaurante Al Mar, à beira da piscina (que fica praticamente dentro da praia), torna-se um dos points mais disputados do balneário. Basta pedir uma jarra de clericot, o drinque oficial de Punta (uma mistura de vinho branco com frutas), e curtir o pôr do sol ao som do saxofonista. Mas, se você prefere um ambiente, digamos, mais à vontade, considere ficar no novíssimo Chihuahua Resort. Trata-se do primeiro hotel nudista de Punta. Por lá, o clima é de balada, mas tudo com muito respeito: roupas são bem-vindas e só se pode ficar nu na área da piscina – ou na própria Praia de Chihuahua.

Pertinho da praia nudista, pegando um desvio pela Ruta Panorámica, logo se vê a Casapueblo, a casa-escultura que o artista uruguaio Carlos Paez Vilaró ergueu em 1960. Encravada nas escarpas de Punta Ballena, a construção caiada funciona como hotel, ateliê, museu e também como residência de Vilaró, que, aos 88 anos, é figurinha fácil por ali. Das varandas debruçadas sobre o mar, o momento mais esperado é, adivinha?, a hora do pôr do sol, quando, em sincronia com o crepúsculo, toca-se a gravação de um poema de Vilaró.

E, se assistir ao pôr do sol é um dos rituais de Punta, é bom dizer que as festas de Réveillon merecem um capítulo à parte. Uma das mais disputadas, a La Fiesta, organizada por um grupo de gaúchos, chega a reunir 2 mil pessoas em uma megatenda à beira- mar, junto ao hotel Serena. A balada chega agora à sua sexta edição. Em novembro, os ingressos já estavam na faixa de US$ 550 (com uísque Black Label, vodca Ciroc e champanhe Chandon à vontade). Os gaúchos organizam também a Sunset, um esquenta para o Ano-Novo no dia 29. A festa rola no terraço do Complexo Boca Chica, na Península, e começa ao pôr do sol. Os convites são mais em conta: homens pagam US$ 170; mulheres, US$ 120.


LA BARRA

Cool sem fazer esforço

É muito fácil saber que se está chegando à La Barra: depois de seguir pela Rambla Lorenzo Batlle Pacheco, que costeia toda a Playa Brava, você vai sentir um inevitável frio na barriga. Não há quem passe ileso pelas “corcovas” da Ponte Leonel Viera, mais conhecida como Ponte Ondulada. Assim, depois desse ritual de passagem, chega-se ao pedaço mais cool de toda Punta. A diferença para a Península é gritante: no lugar de prédios de 20 andares, mansões e hotéis baixos pé na areia; em vez das grandes grifes, lojinhas descoladas e antiquários; e, quanto aos restaurantes mais bacanas, estão quase sempre escondidinhos.

“Enquanto nos restaurantes da Península você precisa usar salto alto para ir jantar, na Barra o dress codeé ir de sandália rasteirinha”, diz a fotógrafa Bárbara Tiellet, fequentadora de Punta há mais de 15 anos. A comparação ajuda a ilustrar bem o espírito desencanado na região. Outra boa ilustração é o costume dos locais em dar carona. Como as praias ficam longe uma da outra, a moçada, público dominante na Barra, não hesita em hacer dedo para ir de um lado a outro. A Bikini, a mais distante das praias, concentra a galera bem-nascida e que vai à areia mais para paquerar que qualquer outra coisa. As turmas começam a chegar aos paradores, com suas chaise-longues e almofadas brancas que tanto inspiraram os bares de Jurerê Internacional, só depois das 16 horas, quando os excessos da noite anterior já foram devidamente metabolizados. Outra praia concorrida é a Montoya, em que predomina um público mais misturado de famílias e adolescentes – muito por causa do resort Mantra, localizado nas redondezas. Por mais estranho que possa parecer, há ainda um público que não faz muita questão de praia em Punta: a clientela do recém-inaugurado Fasano Las Piedras. Aberto nos últimos dias de 2010, a primeira unidade internacional da rede se encontra em uma fazenda pontilhada por rochas – daí o nome –, a cerca de 9 quilômetros do agito das praias. “Fiquei fascinado com o lugar desde a primeira vez”, conta Rogério Fasano, o proprietário. “É a paisagem ideal: uma mistura de Toscana com o interior da Inglaterra, e, ainda por cima, perto do mar.” Com projeto assinado por seu fiel parceiro, o arquiteto Isay Weinfeld, o hotel é todo desmembrado, propiciando às construções uma integração bastante suave com o ambiente. A recepção fica em uma casa central, enquanto os bangalôs (grandes “caixas” concretadas de 80 a 120 metros quadrados) ficam espalhados lado a lado pela fazenda, garantindo assim a privacidade e uma vista sem empecilhos para o campo. O hotel faz parte de um empreendimento maior, um condo residencial de luxo nos mesmos moldes do Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz (SP). Já na segunda etapa de vendas, o preço do lote fica em torno de US$ 1,2 milhão. Mas e a praia? “Trouxemos a praia para cá”, diz o gerente Hermes Cuello. A solução encontrada para driblar a distância até o mar foi transformar em beach club a porção do Rio Maldonado, que banha o terreno. “Colocamos areia, jet-ski e cadeiras de sol”, conta Cuello. Ser vip em Punta del Este tem lá suas vantagens, não?

JOSÉ IGNACIO

A praia é só um detalhe

São 3 da tarde de um domingo de novembro. Pela Ruta 10, estrada beira-mar de 20 quilômetros entre a Barra e José Ignacio, quase não há carros. Nas praias também não se vê praticamente ninguém. Nada de estranho nisso, pois toda a região só começa a ferver mesmo em dezembro. De repente, entrando por uma ruazinha de terra batida, bem no meio do vilarejo de José Ignacio, uma fila imensa de Porsches, BMWs, Pajeros. Logo percebi que havia chegado ao La Huella. Instalado em um deque de madeira sobre a areia, o restaurante é o ponto de encontro oficial dos “entendidos” de Punta. “A comida é deliciosa, mas é um lugar que vale muito mais pela vibe”, comenta Diogo Carvalho, do blog Destemperados, habituê do balneário. Por vibe, leia-se: pufes pela areia, gente bem-nascida se espremendo em mesinhas minúsculas, amigos de óculos Ray-Ban brindando com taças de vinho branco. O tal do espírito rústico-chique que faz a fama de José Ignacio.

Até há pouco menos de dez anos, o local era uma vila de pescadores e refúgio de alguns argentinos endinheirados cansados do ritmo de Punta. Mas, com o crescimento da vizinha, José Ignacio foi chamando atenção e virou escapada obrigatória. “Viemos para cá por indicação de amigos que adoraram esse clima praiano vintage, exclusivo”, contou à VT o publicitário nova-iorquino Jonathan Gibson, que passava férias com o namorado, o advogado Bryan Austin. Em um movimento cada vez mais comum, os dois esticaram para José Ignacio direto de Buenos Aires – sem sequer cogitar dormir em Punta. Celebridades têm muita responsabilidade na elevação do vilarejo à condição de hotspot. Ano passado, Pierre Casiragui, o príncipe de Mônaco, o ator Richard Gere e Ron Wood, guitarrista dos Rolling Stones, foram alguns dos famosos vistos lá.

Vintage, exclusiva, mas cada vez mais no radar da badalação. Um dos lançamentos mais esperados é o Setai José Ignacio, rede que tem hotéis de luxo em Miami e Nova York, e que até 2013 deve inaugurar um resort e um condo, cujas casas devem custar cerca de US$ 5 milhões. Enquanto isso, se quiser ficar no Playa Vik, o hotel mais badalado do momento, prepare-se para diárias de US$ 1 050. Aberto em 2011, o empreendimento é o segundo hotel em José Ignacio do norueguês Alex Vik. O primeiro, em 2009, foi o Estancia Vik, um hotel-fazenda chiquérrimo, 8 quilômetros para o interior da vila. Apesar do parentesco, cada uma das propriedades tem propostas bem diferentes. O Playa, por estar em pleno centrinho, funciona como uma casa de praia modernosa. O prédio principal, chamado “Escultura”, parece se conectar ao mar por meio de uma piscina de borda infinita – o projeto é do renomado arquiteto uruguaio Carlos Ott, também responsável pelo moderno aeroporto de Punta del Este. Já a arquitetura colonial do casarão do Estancia contrasta com seus quartos e interiores decorados com objetos de arte contemporâneos. Como há poucos quartos nos hotéis (12 no Estância e dez no Playa), as unidades são disputadíssimas – já há reservas para o Réveillon de 2012. Para ser cool, também é preciso se planejar com antecedência.

PUNTA PAMPA

Um dia no campo

O pequeno povoado de Garzón, a 70 quilômetros de Punta, vivia praticamente congelado no tempo desde que o moinho do pueblo fechou, nos anos 1960, e, mais tarde, em 1989, o trem parou de chegar. Mas em 2004 o clima de Uruguai profundo começou a mudar com a chegada do superchef argentino Francis Mallmann à cidade. Com suas ruas de terra, Garzón entrou então no circuito turístico e virou uma espécie de José Ignacio sem praia. Mallmann, dono de casas badaladas em Buenos Aires e Mendoza, abriu ali o Hotel Garzón, que tem cinco quartos e um restaurante. Sempre lotado, os clientes vão até lá para provar as carnes de cozimento perfeito, especialidade do chef. Depois de Mallmann, vieram endinheirados ávidos por um refúgio no campo, caso do galerista inglês Martin Summer, que acaba de inaugurar a Casa Anna, um bed & breakfast com clima familiar, de apenas cinco quartos.

Outras atrações dessa Punta rural são seus lagares e vinícolas. Um dos mais charmosos desses lagares, que são fazendas de produção de azeite, é a Fazenda Punta Lobos, do publicitário ítalo-carioca Mario Cohen, há 30 anos no Uruguai. O lagar, bem próximo do hotel Fasano, tem 17 mil oliveiras. Os visitantes as veem e depois conhecem a fábrica, onde acontece uma pequena aula sobre os diferentes tipos de azeite e azeitona. Já para os enólogos de plantão, a vinícola Alto de la Ballena é um programaço. Cercado por campos esverdeados, o vinhedo se espalha nos pés da Sierra de la Ballena, após um desvio da Ruta 12. Um dos grandes vinhos da casa mistura castas da uva tannat, típica do Uruguai, com a viognier. Na hora da degustação, nada de caves subterrâneas: as bebidas são servidas em uma varanda com vista para o vale.


Comer

Na região da Península, o restaurante Lo de Tere (Rambla del Porto com Calle 21, 440- 492) fica aberto o ano todo. Experimente o carpaccio de polvo (cerca de R$ 30), ou as carnes e as massas. As mesas do Virazón (Rambla del Porto com Calle 28, 443-924) estão em um deque fincado na areia. Tem um dos melhores clericots da cidade. Dentro do hotel Serena, o Asiana (Rambla Claudio William, parada 24 da Playa Mansa, 233-441; o restaurante reabre neste mês, ainda sem data definida) faz uma interessante fusão da cozinha asiática com a latina. Não deixe também de experimentar duas instituições locais: os churros de doce de leite do Manolo (Calle 29 com Avenida Gorlero) e o chivito, uma espécie de x-tudo uruguaio, do La Pasiva (Avenida Gorlero com Calle 28, 441-843). Já na área da Barra, o Cactus y Pescados (Ruta 10, km 154, Playa Bikini, 774-782) é o lugar ideal para pesticar depois de um dia de praia (vá de mexilhões à provençal; R$ 45). Bem escondido, o O’Farrell (Ruta 10, km 164,5, Manantiales, 774-331), de culinária mediterrânea, é considerado um dos melhores da região. Com clima de diner americano, o Rex (Ruta 10, km 161, 771-504) é para sair da dieta com chivitos, waffles e panchos (hot-dog). Entre dezembro e janeiro, o local fica aberto 24h. Seguindo para José Ignacio, o Parador La Huella (Calle Los Cisnes, 44/862-279) é megadisputado – nem pense em ir sem reservar. O cardápio é bem leve, com peixes, sushis e saladas. O clima de luau domina no Marismo (Ruta 10, km 185, 44/862-745): chão de areia, mesas sob tendas e fogueira. Abre em 16 de dezembro.

Passear

Na parada 4 da Playa Brava, a escultura La Mano, do chileno Mario Irrazábal, está sempre apinhada de turistas. Para ir da Península até a Casapueblo (Ruta Panorámica, Punta Ballena, 578-041; cerca de R$ 12), é preciso rodar: são cerca de 15 km. A vinícola Alto de la Ballena (Ruta 12, km 16,4, 094/410-328) está aberta para visitação (com hora marcada). Em um desvio da Ruta 10, fica a Fundación Pablo Atchugarry (Ruta 104, km 4,5, 775-563; 10h/18h). Há um lindo jardim, por onde estão espalhadas 45 esculturas de vários artistas. Para conhecer a fazenda Punta Lobos (Campo Lobos, 661-423), produtora de azeites, é preciso agendar horário.

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